Carta ao meu útero | Dia Internacional da Saúde e Dignidade Menstrual
Por Hellen Nzinga, no Dia Internacional da Saúde e Dignidade Menstrual
Querido útero,
Essa semana descobri que quando minha avó estava grávida da minha mãe, eu já morava ali, silenciosa, como um pequeno óvulo, uma possibilidade, o registro da ascendência dentro protegida por você.
Os óvulos são formados durante o desenvolvimento fetal da mulher e não são produzidos novamente após o nascimento.
E desde então, você me acompanha. Foi abrigo, foi dor, foi desconforto, foi força, foi ciclo, foi minha certeza de que tudo se regenera e me ensinou que é preciso deixar ir para renascer.
Meu maior desejo é que eu lembre todos os dias a força que você tem. Imagina, ser uma das primeiras tecnologias desse mundo... mas infelizmente vivemos em uma cultura em que isso pode soar como ameaça.
Digo que lembrar da sua força todos os dias é meu maior desejo, porque, às vezes, é difícil enxergar tudo isso quando você, tantas vezes, foi reduzido ao silêncio imposto por uma sociedade que escolheu não falar sobre você, sobre nós. Por muito tempo me ensinaram a te esconder, a te negar, a sentir vergonha do que você representa. Mas hoje eu entendo que te conhecer é, também, me libertar.
Você não é sinônimo de dor, nem de sujeira, nem de algo que deva ser escondido. Você é tecnologia ancestral, querido útero. Você pulsa vida. Você me ensina sobre os ciclos, sobre começo, meio, fim e recomeço.
E por isso, neste Dia Internacional da Saúde e Dignidade Menstrual, eu te honro. Te honro porque merecemos mais do que o descaso, mais do que o silêncio, mais do que a precarização da nossa saúde. Mereço te oferecer cuidado, informação, acesso e escolhas. Mereço (merecemos) saúde menstrual acessível. Merecemos dignidade. E que todas as mulheres e pessoas que menstruam, que carregam um útero, possam viver isso também. Sem vergonha, sem medo, sem tabus.
Quero finalizar essa carta deixando um convite, ou melhor, um lembrete para quem lê essa carta que fiz para você: que nunca se esqueça da potência dessa tecnologia ancestral que você carrega consigo. E que, querido útero, nossos ciclos sejam espaços de gentileza conosco mesmas, de paciência, de potência e de autonomia. Porque, no fim das contas, cuidar de você, querido útero, é também cuidar de mim, de todas as que vieram antes e de todas as que ainda virão.
Com amor e coragem,
Hellen Nzinga
Cofundadora & Diretora Executiva EcoCiclo - Linkedin | Instagram
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Que linda e necessária essa carta. Obrigada, Hellen!